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Se eu fosse escolher os dez discos favoritos da vida, com certeza esse não ficaria de fora.



Recentemente o disco de estréia do Joy Division chegou nos seus 40 anos, e é claro que eu tive que vir aqui pra falar sobre ele, já que se trata de um dos meus favoritos da vida.

Tudo começou em 1976 em Manchester, depois de um show dos Sex Pistols.  Bernard Summer (guitarrista), Peter Hook (baixista), e o Terry Mason (baterista)  decidiram formar uma banda, ainda que todos eles nem tivessem familiaridade com os instrumentos antes. Eles colocaram então um cartaz numa loja de discos procurando o vocalista, e foi dessa maneira que o Ian Curtis (vocalista) entrou na banda (curiosidade: o Ian também estava no mesmo show em que eles foram do Sex Pistols).

Antes do nome ser Joy Division, a banda desses garotos tinha um outro nome: Warsaw (inspirado numa música do David Bowie do álbum ''Low''). Eles chegaram a abrir alguns shows com esse nome, como o do Buzzcocks por exemplo. O foco deles sempre foi ser uma banda de punk, alguns singles e demo lançadas nesse período comprovam isso, nenhum tinha a intenção de transformar a banda em algo gótico, afinal, isso meio que nem existia ainda, como um movimento propriamente dito. 

Ainda falando nesse período punk do Joy Division, digo Warsaw, o baterista resolveu dar lugar à um outro mais experiente, que inclusive já havia feito parte de outro banda punk da época, porém ele foi expulso rapidamente por ser muito agressivo. Foi aí que eles colocaram um outro anuncio novamente na loja de discos, e apenas um cara se candidatou, que era na verdade um cara que foi da mesma escola do Ian Curtis, o Stephen Morris. Nesse mesmo ano, eles descobriram que já tinha outra banda punk com o nome parecido (Warsaw Pakt), dessa maneira, os integrantes mudaram então para o que conhecemos, Joy Division. A ideia para o nome veio do livro ''Casa de Bonecas'' de 1953, escrito por Yehiel De-Nur (escritor polonês sobrevivente do Holocausto), que era um lugar onde os nazistas tinham relações sexuais com prisioneiras judias durante a Segunda Guerra Mundial.

Por causa desse nome, Joy Division infelizmente atraiu algumas pessoas nazistas para seus shows, que inclusive iam lá pra brigar, e isso acabou resultando em confusão porque todos os integrantes abominavam esse tipo de gente. Um tempo depois, foi ficando claro para o público que eles não eram nazistas ou coisa do tipo, muito pelo contrário.


Related imageO primeiro disco estreou em 1979. Mal sabiam eles, que iriam marcar a música com esse primeiro trabalho. Alias, ninguém preveria também que a banda acabaria tão depressa, devido ao falecimento do Ian Curtis (vocalista) no ano seguinte em 1980, de suicídio. Por mais que as canções fossem bem obscuras e na maioria tristes, pegou todos de surpresa. Seus colegas de banda sabiam sim que Ian estava sofrendo no seu casamento, com sua epilepsia e depressão, mas como todos eram muito jovens, ninguém sabia o que fazer para ajudá-lo. Depois que essa tragédia aconteceu, eles formaram outra banda, New Order, que somente no começo da banda ainda tinha resquícios do Joy Division, depois eles seguiram para um rumo mais eletrônico/pop. Enfim, isso é um papo para um outro post.
Joy Division lançou ao todo apenas dois discos de estúdio, o clássico ''Unknown Pleasures'' de 1979 e o igualmente bom ''Closer'' de 1980. Por ora, vou me focar apenas no primeiro, que chegou na incrível marca de 40 anos em que foi lançado, e que é alias, o meu favorito. 

Unknown Pleasures é um enigma. As letras não possuem em sua maioria um significado claro, embora algumas deem para deduzir pelas experiências do Ian, como por exemplo a She's Lost Control, que foi na verdade inspirado numa garota que ele conheceu que sofria do mesmo problema de epilepsia que ele, que morreu repentinamente inclusive. No geral, as letras precisam ser encaradas como poesias que ganharam um significado diferente em cada pessoa que ouvir. É um disco mais para ser sentido, do que decifrado, apesar de ser todo misterioso. 

Falando em mistério, muita gente ficou curiosa também à respeito da capa, que nada mais é do uma imagem desenhada de um gráfico captada por ondas de rádio, que mostra o primeiro pulsar de uma estrela colidindo nela mesma antes de se desfazer e assim, deixar de existir, esse fenômeno é chamada de CP1919. A ideia veio da cabeça do Bernard Summer (guitarrista, tecladista), ao contrário do que se pode pensar que veio do Ian Curtis, como eu deduzia.


O disco começa pela música mais dançante do album eu diria, intitulada ''Disorder''. Minha interpretação da letra é que se trata da epilepsia que o Ian Curtis sofria, mas adaptado paras as nossas realidades, podemos interpretar como algo que nos tira da ordem, ou seja, nossos problemas particulares. E o que falar então do instrumental, começa com a bateria claramente como se fosse tocada de longe, com uma finação diferenciada, depois vem o riff extremamente simples, típico do punk, a letra cantada sem refrão, declamada como uma poesia - o que de fato era e ainda é. Existem uns sons durante a música, como se remetesse à um barulho de uma nave espacial ou algo do tipo, que traz um ar meio ''LSD'' pra música, mas ela não chega a ser psicodélica nem nada do tipo. O destaque fica por conta do final, onde o vocalista sai da zona de conforto até então construída na melodia vocal, pra declarar com mais força e emoção o sentimento do álbum. É um baita de um hino. Com o perdão do trocadilho, é puro ''feeling''. 

''I've been waiting for a guide to come and take me by the hand (...)''


A segunda canção ''Day of the Lords'' já é mais lenta, mais introspectiva, dark. Eu simplesmente amo a guitarra nessa música, ela consegue ser bem pesada com uma timbragem mais limpa em grande parte. Totalmente gótica, fria.

''(...)There's no room for the weak, no room for the weak,
Where will it end? Where will it end? (...)''


A terceira ''Candidate'', começa gradativamente, e o grande destaque fica por conta da linha de baixo de Peter Hook, que parece como o centro da melodia, embora que meio apagada. A guitarra aparece como fantasmas durante a canção, construindo assim uma atmosfera mórbida. A voz do Ian aparece muito mais melancólica, e nota-se que ele não era um grande cantor, cheio de técnicas vocais e etc, mas em cada frase se sente o peso das palavras, nisso ele se destaca como um grande intérprete. É uma canção carregada de dor.  

A quarta música ''Insight'', é um pouquinho mais agitada que as duas anteriores, e ela é marcada por sons pra lá de esquisitos durante a canção, inclusive aonde era pra ser o solo, temos uma mistura desses barulhos esquizofrênicos de sintetizadores se misturando. A letra é bastante depressiva, e é como se fosse uma confissão do sofrimento que o Ian Curtis estava passando. Recentemente essa música ganhou um clipe maravilhoso em comemoração ao aniversário do álbum, que nada mais é do que uma re-imaginação de uma possível interpretação da música, embora eu não tenha imaginado ela por esse lado, ficou genial! Assista!


A quinta, ''New Dawn Fades'', está entre as minhas preferidas. É uma canção extremamente melancólica, que ficam marcadas pela guitarra que possui riffs maravilhosos, embora ela entre mais pesada, ela vai ficando mais suave durante a música, o que se iguala com a interpretação do Ian Curtis que entra de maneira calma e delicada e vai subindo degraus até chegar numa explosão de raiva. Impossível não se arrepiar, principalmente nos versos finais, onde as palavras ficam afiadas e cortantes. 

A sexta música, ''She's Lost Control'',  como dito anteriormente é sobre a perda de controle, que foi uma referencia à uma experiência do Ian, mas também pode ser trazido para uma interpretação mais ampla; a de que onde todos nós passamos por essa experiência de se sentir que não está no comando de sua própria vida, nesse sentido, é parecido com a Disorder. Amo essa música em especial, foi uma das primeiras que ouvi e que me fizeram gostar da banda.

A sétima, ''Shadowplay'', é puro pós-punk. A guitarra se sobressai, o ritmo é mais rápido, alguns barulhos de vidro quebrando por exemplo trazem a sensação de euforia, sufocamento. É como um aprisionamento e a vontade de sair correndo, lutando num duelo.


A oitava, ''Wilderness'', começa com o baixo puxando a música, e a guitarra acompanha de maneira bem simples, sem solos no começo, só na metade. A bateria e o vocal com ecos, dá uma sensação de lugar vazio. E a letra casa bem com esse sentimento, como se nada na vida tivesse sentido, não houvesse nada de bom apenas lágrimas e vazio. 

A nona e penúltima, ''Interzone'', não é cantada pelo Ian (ele apenas fica nos backing vocals), mas sim pelo Peter Hock (baixista), e é a música mais punk do álbum. Talvez essa seja a música mais deslocada dentro do álbum, porém ainda sim é boa. 

A por fim a última, ''I Remember Nothing'', é bem atmosférica, é uma música que chega a dar medo, tanto pelo vocal existencialista desesperançado do Curtis, como pelos acordes soltos do baixo no grave. É uma canção que mostra num espelho toda a estranheza humana nas afirmações ''We were strangers''. Mais uma vez temos sintetizadores assombrando a música com sons estranhos, bateria dando eco, e espelho (?) quebrando novamente. Pra mim é a mais assustadora do album. 
Essa música também ganhou um clipe novo em comemoração aos 40 anos do album, dá uma olhada como ficou.


Pois bem, encerro por aqui a review. Espero que esse disco ainda seja lembrado por muitos e muitos anos, e que as futuras gerações o descubram, assim como eu o descobri, porque é uma verdadeira obra de arte. ♥ 

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